6 de fevereiro de 2012

O RACISMO NÃO HAVIA ACABADO?

‘É triste um negro ter quer ficar famoso para não sofrer com o racismo’, diz o ator Douglas Silva ao rever sua trajetória.

Semanalmente, além da gravação do "Esquenta", Douglas Silva tem um compromisso religioso. Sem trocadilho. O ator, convertido à Igreja Renovação em Cristo, participa do culto promovido por sua sogra, Vanessa Silva, na casa de parentes na Piedade. — É uma reunião familiar, um tempo para Deus, um horário para agradecer o que Deus faz para a gente durante a semana. Aqui vem espírita, macumbeiro, católico — conta ele ao EXTRA no local, durante as filmagens do documentário “Cidade de Deus — 10 anos depois”, de Cavi Borges e Luciano Vidigal.
Uma década após sua estreia no cinema, aos 12 anos, como o Dadinho de "Cidade de Deus", Douglas deixou de ser só mais um Silva. De lá para cá, o garoto criado na favela Kelson’s, na Penha, virou Acerola na série "Cidade do homens" (2002), mudou-se para o Leblon, casou-se (com a nutricionista Carolina, de 22 anos), foi morar em Vila Valqueire, fez a novela "Caminho das Índias" (2009), entre outros trabalhos, até parar no elenco fixo do "Esquenta". 
— O filme foi importante não só pra mim. Ali comecei a mostrar meu trabalho — conta ele, que assim como o restante do elenco terá sua trajetória retratada no longa-metragem. 

O sucesso pós-filme mexeu com a vida de Douglas Silva de uma forma que só a entrada na igreja, em 2006, acalmou. 

— Dos 15 aos 17 anos, eu era um menino com dinheiro. Não tinha crença, bebia como gente grande — diz ele, que na mesma época foi apresentado às drogas: — Só experimentei a maconha quando fui morar no Leblon. Na comunidade, quando morava com minha avó, ela nunca deixou nenhum neto se perder. 

Na Zona Sul, ele também sentiu na pele o racismo: — Quando atravessava as ruas, só ouvia o "crec" do barulho das travas fechando os automóveis. Um dia parei e falei: "Não vou roubar você, nem seu carro, não!". Era certo eu passar e acontecer isso. Hoje, as pessoas me respeitam mais, já entro no Fashion Mall, no Rio Design Barra. É uma vitória pessoal, mas é muito triste um negro ter quer ficar famoso para não sofrer mais com o racismo. Se você for negro e ainda favelado, está ferrado! 

Aos 22 anos, o pai de Maria Flor, de 1 mês, quer contar outra história à filha.
— Apesar de não conhecer meu pai, vou dar muito amor e um sobrenome a ela — promete o ator, revelando um trauma de infância: — Se meu pai aparecesse agora não ia mudar nada. Só ia querer um sobrenome dele. Ser só Silva é horrível. Na escola, sofria quando perguntavam "Qual seu nome todo?". Eu respondia "Douglas Silva". E perguntavam de novo "Seu nome todo?", e eu explicava tudo... 

Onde estão? 

A equipe de "Cidade de Deus — 10 anos depois" apura que fim levaram os atores conhecidos e não-famosos do filme. - Nem todos ficaram famosos. Checamos informações de gente que participou e já morreu - revela Luciano Vidigal, um dos diretores.

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